Enquanto o ouro dispara rumo a novos recordes com o aprofundamento das tensões no Oriente Médio, o Bitcoin segue um caminho diferente, permanecendo mais correlacionado aos movimentos do mercado acionário do que ao comportamento de ativos de refúgio, como o próprio ouro.
Ouro atinge máxima histórica com o avanço da crise geopolítica
O preço do ouro saltou para US$ 3.450 por onça nesta segunda-feira (21), ficando a apenas US$ 50 de sua máxima histórica, registrada em abril, de pouco menos de US$ 3.500. Desde o início de 2025, o metal precioso acumula uma valorização impressionante de 30%, segundo dados da TradingView.
O movimento de alta foi impulsionado inicialmente pelas novas tarifas comerciais impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e ganhou ainda mais força após o recente ataque de mísseis israelenses contra o Irã, ocorrido em 13 de junho, um evento que gerou ondas de instabilidade nos mercados globais.

Além das tensões geopolíticas, o ouro segue apoiado por pressões inflacionárias globais e pela busca de investidores por proteção de capital. “Se dados futuros indicarem maior preocupação com a inflação ou com a política de juros, o ouro poderá facilmente renovar sua máxima histórica”, destacou a CBS News no último fim de semana.
Bitcoin: ativo de risco ou reserva de valor?
Enquanto o ouro segue seu caminho como tradicional ativo de refúgio, o Bitcoin parece seguir outro roteiro. No acumulado de 2025, o BTC registra uma alta mais modesta de 13%, sendo negociado atualmente na casa dos R$ 570 mil (ou cerca de US$ 106.000), ainda 5,3% abaixo de sua máxima histórica, que foi de US$ 111.800 em maio.
Segundo o analista Tony Sycamore, da IG Markets, o Bitcoin permanece altamente correlacionado aos ativos de risco, como as ações dos EUA, ao invés de se comportar como um porto seguro em momentos de tensão global.

“O Bitcoin continua se movendo mais como as ações dos EUA do que como o ouro. Hoje, com os futuros de ações em forte recuperação após a liquidação de sexta-feira, há espaço para o Bitcoin buscar novos avanços”, comentou Sycamore ao Cointelegraph.
O analista ainda projeta que, caso o BTC mantenha o suporte na faixa de US$ 95.000 a US$ 100.000, o mercado pode esperar um novo teste da máxima histórica e, eventualmente, uma movimentação em direção à zona entre US$ 116.000 e US$ 120.000.
Petróleo e ouro sobem enquanto Bitcoin e ações tentam se recuperar
A análise de Sycamore é reforçada por Henrik Andersson, da Apollo Crypto, que observa uma recuperação nos futuros de ações e no Bitcoin após a pressão vendedora da última sexta-feira, atribuída diretamente às notícias do Oriente Médio.

Por outro lado, Andersson acredita que, no curto prazo, commodities como petróleo e ouro continuarão a seguir uma rota oposta à das ações e do BTC.
“O petróleo e o ouro ainda são os principais beneficiários dessa aversão ao risco global. Enquanto isso, Bitcoin e ações tendem a caminhar juntos”, destacou.
Nick Ruck, da LVRG Research, também vê a narrativa de “ouro digital” do Bitcoin enfraquecendo.
“A correlação do BTC com o ouro está desvanecendo. Os traders estão cada vez mais focados na volatilidade de curto prazo e nas condições de liquidez, o que deixa o Bitcoin mais alinhado aos ativos de risco”, afirmou.
Foco no Federal Reserve: possível catalisador para o Bitcoin?
Olhando adiante, o grande foco dos investidores esta semana será a reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed), marcada para quarta-feira (25/06).

Embora o mercado futuro aponte 96,7% de chance de manutenção das taxas de juros entre 4,25% e 4,50%, qualquer sinalização futura sobre o caminho dos juros pode influenciar fortemente o comportamento dos ativos de risco — incluindo o Bitcoin.
Para Eugene Cheung, diretor da OSL, uma mudança no apetite por risco ou um aumento na busca por alternativas de reserva de valor pode dar novo fôlego ao BTC nas próximas semanas.
“Se o sentimento de risco mudar, o Bitcoin pode ver um impulso renovado, dependendo dos sinais que o Fed vai emitir”, disse Cheung.
Conclusão
A guerra no Oriente Médio reforçou o papel do ouro como ativo de proteção em tempos de crise, levando seu preço a níveis históricos. O Bitcoin, por outro lado, segue se comportando mais como um ativo de risco, acompanhando de perto o mercado de ações.
Embora a narrativa de “ouro digital” ainda tenha espaço no longo prazo, no atual cenário de incerteza e liquidez global, o BTC segue mais sensível ao humor dos investidores em relação ao risco. O próximo grande catalisador? A decisão do Fed sobre os rumos da política monetária dos EUA.